Todo ano é a mesma história: o 13º salário cai na conta e, poucos dias depois, o dinheiro simplesmente some.
Em muitos casos, a sensação é de que “não sei para onde foi o dinheiro”, mas o padrão se repete no ano seguinte.
Em vez de culpar apenas o valor recebido, vale olhar para os hábitos. Na prática, não é só quanto você ganha, e sim como você usa o que recebe.
Além disso, o 13º costuma ser tratado como “dinheiro bônus”, o que abre espaço para impulsos e decisões emocionais.
Neste artigo, você vai ver 7 erros comuns que fazem o décimo terceiro evaporar e, principalmente, como evitar cada um deles com atitudes simples e bem objetivas.
O que é o 13º salário e por que ele “evapora”?
O 13º salário é uma renda extra previsível: você sabe que ele chega no fim do ano.
Mesmo assim, muita gente se comporta como se fosse uma surpresa agradável, quase um prêmio de loteria.
Por causa disso, o cérebro entra no modo “recompensa”:
- “Eu mereço me dar um presente.”
- “Depois eu vejo as dívidas.”
- “É só esse ano, depois eu me organizo.”
Como consequência, o décimo terceiro vira combustível para consumo impulsivo, parcelamentos longos e decisões que não consideram o próximo ano.
Porém, quando existe um plano claro, esse dinheiro pode se transformar em ponto de virada nas finanças pessoais.
Erro 1 – Usar o 13º apenas para consumo imediato
Um dos erros mais frequentes é direcionar todo o 13º para compras de fim de ano: roupas novas, eletrônicos, ceia, presentes e festas.
Além disso, muitas dessas compras são feitas no cartão de crédito, em várias parcelas, o que estende o impacto por meses.
No começo parece tudo bem, porque as parcelas “cabem no bolso”. No entanto, quando o ano seguinte começa, as faturas se somam às despesas tradicionais de janeiro.
Como evitar:
- Antes de qualquer compra, pergunte a si mesmo: “Isso resolve um problema real ou apenas atende a um desejo do momento?”
- Em seguida, defina um limite claro para gastos com presentes e lazer (por exemplo, 20% do valor líquido do 13º).
- Sempre que surgir uma promoção, compare com o plano: se não estava previsto, pense duas vezes antes de comprar.
Erro 2 – Ignorar dívidas caras (cartão e cheque especial)
Outro comportamento perigoso é não usar o 13º salário para atacar dívidas de juros altos, como cartão de crédito e cheque especial.
Essas dívidas crescem rápido e, portanto, consomem uma parte significativa da renda ao longo do ano.
Além disso, pagar apenas o mínimo do cartão ou viver encostando no cheque especial significa carregar juros sobre juros. Logo, uma parte do próximo 13º já está comprometida antes mesmo de chegar.
Como evitar:
- Primeiro, liste todas as dívidas, organizando da maior taxa de juros para a menor (cartão, cheque especial, crediário, empréstimos pessoais).
- Depois, use boa parte do 13º para reduzir ou quitar as dívidas mais caras. Assim, você libera espaço no orçamento mensal.
- Sempre que possível, negocie com o banco ou com a financeira antes de pagar. Muitas instituições oferecem desconto para quitação ou renegociação à vista.
Erro 3 – Não ter um plano antes de receber o dinheiro
Muita gente só começa a pensar no que fazer com o 13º depois que o dinheiro cai na conta.
Assim, qualquer promoção, viagem ou convite inesperado passa a parecer prioridade absoluta.
Sem um plano definido, o dinheiro obedece ao impulso, não à estratégia.
Como evitar:
- Antes de tudo, defina por escrito o que você pretende fazer com o valor:
- Quanto será destinado a dívidas;
- Quanto vai para a reserva de emergência;
- Quanto pode ser usado com consumo e lazer.
- Além disso, compartilhe esse plano com alguém de confiança. Dessa forma, você se sente mais comprometido a seguir o combinado.
- Sempre que surgir uma nova ideia de gasto, retome o plano e pergunte: “Isso cabe aqui ou estou saindo do que foi planejado?”
Erro 4 – Misturar expectativas da família sem conversar
Em muitas casas, o 13º salário é visto como a solução para tudo: dívidas, viagem, presente das crianças, reforma pequena, festa de fim de ano e por aí vai.
Porém, quando ninguém conversa sobre prioridades, as expectativas se chocam e surgem frustrações.
Às vezes, uma pessoa pensa em quitar dívidas e outra já está contando com a viagem de férias. Assim, qualquer decisão vira motivo de conflito.
Como evitar:
- Antes de usar o dinheiro, faça uma conversa franca em família.
- Liste tudo o que cada pessoa considera importante: contas, dívidas, desejos, viagem, presentes.
- Em seguida, veja o que é possível realizar com o valor real do 13º.
- Combine um mínimo obrigatório para obrigações financeiras (contas, dívidas, necessidades da casa) e só depois divida o restante entre desejos e lazer.
Erro 5 – Não separar nada para reserva de emergência
Outro erro grave é deixar passar a oportunidade de fortalecer a reserva de emergência.
Sem uma reserva, qualquer imprevisto vira dor de cabeça: conserto de carro, remédio, manutenção da casa, exames médicos e outras despesas inesperadas.
Consequentemente, a pessoa volta a recorrer ao cartão de crédito ou ao cheque especial, entrando novamente no ciclo de juros.
Como evitar:
- Estabeleça como meta juntar de 3 a 6 meses de despesas essenciais em uma reserva.
- Use ao menos 20% do 13º para chegar mais perto dessa meta, colocando o dinheiro em um investimento de alta liquidez, como Tesouro Selic, CDB com liquidez diária ou conta remunerada confiável.
- Pense dessa forma: “Esse dinheiro não é para gastar, é para me proteger de boletos surpresa.”
Erro 6 – Esquecer das despesas de início de ano
Janeiro costuma vir acompanhado de IPTU, IPVA, matrícula, material escolar, seguro e outros compromissos.
Mesmo assim, muita gente usa o 13º como se essas despesas simplesmente não existissem.
Assim, quando o ano começa, o orçamento aperta de novo e as dívidas voltam a crescer.
Como evitar:
- Antes de gastar o 13º, faça uma lista com todas as despesas típicas do início de ano e some o valor total.
- Em seguida, separe uma parte do décimo terceiro exclusivamente para esses compromissos.
- Se for necessário, deixe o valor em uma aplicação de curto prazo (como um CDB diário) apenas para não misturar com o dinheiro de uso imediato na conta corrente.
Erro 7 – Não investir nada do 13º salário
Por fim, um erro que muita gente comete é não reservar nem uma pequena parte do 13º para investir.
A ideia costuma ser: “Quando sobrar eu invisto”. Porém, a realidade é que quase nunca sobra.
Além disso, quem nunca começa acaba postergando o investimento por anos, mesmo ganhando relativamente bem.
Como evitar:
- Defina que uma porcentagem fixa do 13º (por exemplo, 10%) será dedicada a investimentos, aconteça o que acontecer.
- Se você ainda tem dívidas muito pesadas, foque em investimentos simples e conservadores, aprendendo o hábito primeiro.
- Com as dívidas sob controle, comece a considerar ativos como fundos imobiliários (FIIs) e ações de boas empresas aos poucos, sempre com visão de longo prazo.
- Lembre-se: o objetivo não é ficar rico com esse único 13º, e sim iniciar um novo comportamento financeiro.
Um passo a passo prático para usar melhor o 13º salário
Para organizar melhor, você pode seguir uma divisão de referência como esta:
- 40% – Quitar ou reduzir dívidas caras
- 30% – Reservas e despesas de início de ano (IPTU, IPVA, escola, seguros etc.)
- 20% – Consumo e lazer consciente
- 10% – Investimentos de longo prazo
Claro que cada família tem uma realidade diferente. Porém, com uma estrutura parecida, fica mais fácil proteger o presente, o começo do próximo ano e também o futuro.
Exemplo rápido com números
Imagine um 13º líquido de R$ 3.000. Uma divisão possível seria:
- 40% para dívidas caras → R$ 1.200
- 30% para início de ano → R$ 900
- 20% para consumo/lazer → R$ 600
- 10% para investimentos → R$ 300
Dessa forma, você consegue aproveitar o fim de ano, porém entra em janeiro menos apertado e ainda dá um passo na construção do seu patrimônio.
Checklist final: seu 13º trabalhando a seu favor
Antes de gastar o décimo terceiro, revise este pequeno checklist:
- Listei minhas dívidas e priorizei as de juros mais altos.
- Separei um valor para IPTU, IPVA, escola e outras despesas de início de ano.
- Destinei uma parte para reserva de emergência, em investimento de alta liquidez.
- Defini um limite máximo para presentes, ceia, viagens e lazer.
- Investi pelo menos uma parte do 13º pensando no longo prazo.
Se você evitar esses 7 erros, o 13º deixa de ser apenas um alívio momentâneo e passa a ser um impulso real para organizar a vida financeira e começar o próximo ano com mais tranquilidade.
Fontes
– Banco Central do Brasil – Cidadania Financeira: Educação financeira em tempos de crise : bcb.gov.br/cidadaniafinanceira/tempos-de-crise
– Serasa – 59% dos brasileiros que vão usar o 13º salário planejam quitar dívidas ou pagar contas básicas : serasa.com.br/imprensa/brasileiros-que-vao-usar-o-13-salario-planejam-quitar-dividas-ou-pagar-contas-basicas/
– InfoMoney – Planejamento: saiba como usar bem o 13º sem cair em armadilhas financeiras: infomoney.com.br/minhas-financas/planejamento-saiba-como-usar-bem-o-13o-sem-cair-em-armadilhas-financeiras/
– CNN Brasil – Viajar, investir ou quitar dívidas: veja como usar o 13º salário com inteligência : cnnbrasil.com.br/economia/financas/viajar-investir-ou-quitar-dividas-veja-como-usar-o-13o-salario-com-inteligencia/


