Quem é MEI costuma começar o negócio de forma simples: usa a mesma conta bancária para tudo, paga boleto da casa com o dinheiro das vendas e, quando falta, coloca “do próprio bolso” na empresa. Porém, essa mistura é justamente uma das maiores causas de confusão financeira e de problema com fluxo de caixa.
Além disso, entidades como Sebrae e especialistas em gestão reforçam que separar as finanças pessoais das finanças da empresa é uma das práticas mais importantes para a saúde do negócio, ainda que seja uma das mais negligenciadas pelos microempreendedores. Sebrae+2CDL Goiânia+2
A seguir, você verá, na prática, como fazer essa separação sendo MEI, passo a passo.
Por que o MEI precisa separar o dinheiro da empresa?
Antes de falar de conta bancária, vale entender o motivo.
Em primeiro lugar, quando você mistura tudo, três problemas aparecem:
- Você não sabe se a empresa dá lucro ou prejuízo.
- Fica difícil planejar investimentos, reposição de estoque e capital de giro.
- Aumenta o risco de erro em declarações e em limites de faturamento do MEI.
Além disso, a própria orientação oficial do governo destaca que, embora o MEI não seja obrigado a ter conta PJ, a boa administração começa pela separação entre patrimônio pessoal e patrimônio da empresa. Serviços e Informações do Brasil+2Sebrae+2
Portanto, separar o dinheiro não é frescura contábil; é condição para tomar decisão com base em números reais.
Passo 1 – Tenha uma conta exclusiva para o negócio
Como primeiro passo prático, defina um lugar em que só o dinheiro da empresa circula.
Você tem duas opções:
- Abrir uma conta PJ para o CNPJ MEI.
- Manter uma conta PF separada, mas usada exclusivamente para o negócio.
Embora a lei permita operar com conta pessoal, Sebrae e especialistas recomendam fortemente uma conta exclusiva para evitar confusão contábil e facilitar o controle. contabeis.com.br+2netcpa.com.br+2
Assim, tudo que cair dessa conta será faturamento do MEI; tudo que sair será gasto da empresa ou transferência para você (pró-labore/lucro).
Passo 2 – Defina um pró-labore (o “seu salário”)
Depois de separar a conta, vem o ponto que muitos MEIs ignoram: quanto você tira por mês para você viver.
Em vez de “pegar dinheiro do caixa quando precisa”, vale estabelecer um pró-labore fixo, compatível com a realidade do negócio. Na prática, você escolhe um valor mensal (ou quinzenal), transfere da conta da empresa para sua conta pessoal e trata isso como o seu salário de dono.
Materiais do Sebrae explicam que definir pró-labore e controlar o fluxo de caixa ajuda o empreendedor a enxergar o que é custo do negócio e o que é retirada do proprietário, deixando a gestão muito mais organizada.
Consequentemente, o dinheiro da empresa deixa de ser extensão da carteira pessoal e passa a ser capital do negócio.
Passo 3 – Registre entradas e saídas (fluxo de caixa simples)
Depois de criar a estrutura de contas, você precisa de controle diário ou semanal.
Em termos práticos, um fluxo de caixa simples com três colunas já ajuda:
- Data.
- Entrada (venda, recebimento, serviço).
- Saída (compra, conta, imposto, tarifa, etc.).
Além disso, é importante registrar todas as movimentações, mesmo as pequenas. Guias de gestão financeira para MEI e cursos sobre fluxo de caixa do Sebrae mostram que esse controle é a base para saber se o negócio está saudável e se há espaço para investir ou aumentar o pró-labore.
Assim, você deixa de “sentir no achismo” e passa a enxergar, em números, o que acontece com o dinheiro da empresa.
Passo 4 – Crie regras claras para não misturar
Na prática do dia a dia, a separação só funciona se você tiver regras pessoais. Algumas bem objetivas ajudam muito:
- Não pagar contas da casa diretamente com cartão da empresa.
- Não usar o saldo do MEI para compras pessoais “pequenas” achando que não vai fazer diferença.
- Não colocar dinheiro pessoal na empresa sem registrar como aporte ou empréstimo.
Pesquisas sobre mistura de finanças mostram que a falta de planejamento e a ausência de controles formais estão entre as principais causas dessa confusão, especialmente em negócios de pequeno porte.
Portanto, sempre que precisar ajudar a empresa com dinheiro seu, registre como aporte; sempre que tirar mais que o pró-labore, registre como retirada de lucro. Dessa forma, o histórico fica claro.
Passo 5 – Ajuste o pró-labore ao faturamento real do MEI
Para o MEI, existe um limite de faturamento anual. Em 2025, o limite oficial continua sendo R$ 81 mil ao ano, o que equivale, em média, a R$ 6.750 por mês.
Além disso, tramitam projetos de lei para criar um “Super MEI” com limites maiores (como R$ 140 mil ou R$ 150 mil anuais), porém essas propostas ainda estão em discussão e não mudam a regra atual enquanto não forem aprovadas e sancionadas.
Na prática, isso significa que:
- Faturamento não é lucro.
- Seu pró-labore deve considerar custos, impostos e capital de giro.
- A retirada não pode “secar” o caixa da empresa.
Desse modo, revisar periodicamente o pró-labore com base nos relatórios de fluxo de caixa evita que o dono “mate” o negócio retirando mais do que ele suporta.
Passo 6 – Use planilhas, apps e bancos digitais a seu favor
Atualmente, bancos digitais e fintechs oferecem contas com:
- Máquinas de cartão integradas.
- Emissão de boletos e links de pagamento.
- Relatórios básicos de vendas e extratos organizados.
Além disso, o Sebrae disponibiliza ferramentas gratuitas e cursos sobre fluxo de caixa e organização financeira para MEI, que podem ser acessados online e usados como base para seus controles.
Consequentemente, você não precisa reinventar a roda: pode aproveitar modelos prontos de planilha, aplicativos simples de controle e recursos do próprio banco para manter tudo separado.
Erros comuns do MEI ao misturar dinheiro
Mesmo com todas essas orientações, alguns erros aparecem o tempo todo:
- Usar a conta da empresa como “conta pessoal turbinada”.
- Pagar despesas da casa com cartão PJ “só esse mês”.
- Não registrar aportes pessoais na empresa, perdendo noção de quanto já colocou do próprio bolso.
- Tirar todo o dinheiro do caixa quando as vendas vão bem, sem reservar para impostos e reposição.
Além disso, muitos MEIs só percebem o problema quando chegam as obrigações fiscais, quando precisam comprovar renda ou quando o negócio entra em dificuldade de caixa. Estudos e materiais técnicos sobre pequenos negócios reforçam que separar contas é fundamental para evitar esses prejuízos.
Checklist rápido para separar finanças MEI x pessoal
Para deixar bem prático, veja um roteiro resumido:
- Abrir conta exclusiva para o negócio (PJ ou PF dedicada ao CNPJ).
- Receber todas as vendas do MEI nessa conta, sem exceção.
- Pagar todos os custos do negócio a partir dela.
- Definir um pró-labore e transferir para sua conta pessoal em datas fixas.
- Registrar, em fluxo de caixa, entradas, saídas e retiradas de dono.
- Tratar dinheiro pessoal colocado na empresa como aporte ou empréstimo.
- Revisar o pró-labore e o faturamento a cada mês ou trimestre.
Se você seguir essa lista com disciplina, em pouco tempo já vai enxergar claramente se o seu MEI está de fato dando lucro ou apenas “girando dinheiro”.
Conclusão: separar é gestão, não burocracia
Em resumo, separar o dinheiro da empresa e o dinheiro pessoal, sendo MEI, é uma decisão de gestão, não apenas de burocracia.
Quando você:
- Usa uma conta exclusiva para o negócio.
- Define um pró-labore claro.
- Mantém fluxo de caixa organizado.
- Cria regras para não misturar as contas.
…você passa a ter visão real da saúde financeira do MEI, ganha base para crescer com segurança e evita problemas fiscais e de caixa mais à frente.
Por fim, vale lembrar que o MEI foi pensado para simplificar tributos, não para simplificar a gestão. A parte de controle e disciplina continua sendo responsabilidade do dono. Se você tratar o seu MEI como empresa de verdade desde o começo, terá muito mais chances de transformar o CNPJ em um negócio sólido e lucrativo.


