Ao olhar o extrato bancário, muita gente observa só o saldo final e ignora uma sequência de pequenos lançamentos de “tarifa”, “cesta” ou “serviços”. Esses valores, no entanto, podem consumir dezenas ou até centenas de reais por ano, sem que o cliente perceba claramente para onde o dinheiro está indo.
No Brasil, as instituições financeiras são autorizadas a cobrar tarifas pela prestação de serviços, mas essa cobrança é regulada pelo Banco Central e deve seguir regras específicas, inclusive com uma lista de serviços essenciais gratuitos.Banco Central do Brasil+1
Além disso, boa parte dessas tarifas poderia ser reduzida ou até zerada com ajustes simples de pacote, negociação com o banco e uso mais estratégico do Pix e das contas digitais. Portanto, entender o que está sendo cobrado é o primeiro passo para parar de deixar dinheiro na mesa.
O que são tarifas bancárias afinal?
Tarifas bancárias são valores cobrados pelo banco em troca de serviços como manutenção de conta, transferências, emissão de extratos, uso de cartão de crédito, saques em caixas de outros bancos e vários outros itens.
O Conselho Monetário Nacional, por meio da Resolução nº 3.919/2010, padronizou a terminologia dos serviços prioritários e definiu quais tarifas podem ser cobradas de clientes pessoas físicas.Normativos BCB Posteriormente, a Resolução nº 4.196/2013 estruturou os pacotes padronizados de serviços prioritários, que muitos bancos utilizam como referência para montar suas “cestas” mensais.Banco Central do Brasil
Em paralelo, o Banco Central determina que todo cliente pessoa física tem direito a um conjunto de serviços essenciais gratuitos, como número mínimo de saques, extratos e transferências entre contas da mesma instituição, desde que não contrate pacote pago.Banco Central do Brasil+1 Assim, mesmo quem não quer pagar cesta mensal pode usar o banco sem custo até determinado limite.
Taxas bancárias que você paga e nem percebe
1. Cesta de serviços da conta corrente
Frequentemente, o banco inclui uma “cesta de serviços” logo na abertura da conta. Ela aparece no extrato com nomes como “Cesta Fácil”, “Pacote Padronizado”, “Serviços Conta Corrente” ou algo semelhante.
Essa tarifa é debitada todo mês, quase sempre em valores que parecem pequenos isoladamente. Porém, ao longo do ano, a soma pode representar uma conta de luz inteira ou parte da sua reserva de emergência.
Além disso, muitos clientes pagam por pacotes com dezenas de saques, extratos e TEDs que simplesmente não utilizam. Por outro lado, existe a opção de migrar para o pacote de serviços essenciais, sem mensalidade, desde que o uso se mantenha dentro dos limites gratuitos.Banco Central do Brasil+1
2. Saques e extratos acima do limite gratuito
Mesmo quem tem direito aos serviços essenciais pode acabar pagando tarifas sem perceber. Isso acontece quando o número de saques, extratos impressos ou consultas em terminais ultrapassa o limite gratuito definido pelo Banco Central para cada tipo de conta.Banco Central do Brasil+1
Assim, cada saque adicional em caixa eletrônico ou cada extrato a mais gerado no autoatendimento pode resultar em pequenas cobranças, que se acumulam ao longo do mês. Em muitos casos, bastaria controlar melhor os saques e concentrar tudo em uma ou duas retiradas mensais para reduzir o custo.
3. Transferências (TED) que poderiam ser Pix
Com a popularização do Pix, o uso de TED e DOC caiu bastante. No entanto, alguns clientes ainda fazem transferências tradicionais por hábito, por desconhecerem as tarifas ou por utilizarem canais específicos das empresas.
As tarifas de TED variam conforme o banco e o canal (caixa eletrônico, internet banking, app ou presencial), mas continuam sendo cobradas em muitos casos.FEBRABAN+1 Enquanto isso, o Pix permanece gratuito para pessoas físicas em praticamente todos os bancos, dentro das regras vigentes.
Portanto, sempre que possível, vale substituir transferências pagas por Pix, principalmente para movimentações entre pessoas físicas e pequenos valores do dia a dia.
4. Anuidade e tarifas “extras” do cartão de crédito
Outra fonte de custo pouco percebida é o cartão de crédito. Além da anuidade, existem tarifas específicas que podem aparecer no extrato do cartão básico, como:
- Avaliação emergencial de crédito
- Saques em dinheiro na função crédito
- Pagamento de contas (boletos e contas de consumo) pela fatura
- Emissão de segunda via do cartão
O Banco Central define quais tarifas podem ser cobradas nos cartões básicos e exige transparência na divulgação.cpnv.ufms.br Ainda assim, muitos consumidores mantêm cartões com anuidades altas e utilizam serviços que poderiam ser substituídos por alternativas mais baratas, como pagamento via Pix ou débito automático.
5. Tarifas em caixas de autoatendimento de terceiros
Em diversos casos, o cliente saca dinheiro em caixas 24 horas ou em terminais de outras instituições, principalmente em viagens ou em locais com poucos caixas do próprio banco. Esses saques costumam ter tarifa específica, que é debitada automaticamente do saldo.
Além disso, algumas instituições cobram valores diferentes para saques em canais físicos, como guichê de agência, o que amplia o impacto para quem prefere atendimento presencial. Pesquisas de órgãos de defesa do consumidor mostram que a diferença de preço entre bancos para serviços prioritários pode passar de 400% em alguns pacotes.Procon SP+1
6. Serviços avulsos “escondidos” no mês
Por fim, existe um grupo de cobranças pontuais que muitas pessoas quase não percebem, como:
- Emissão de talão de cheques além da franquia
- Transferência entre contas da mesma instituição acima do limite do pacote
- Atualização cadastral em alguns tipos de operação
- Emissão de segunda via de cartões e talonários
Indo além, podem aparecer tarifas relacionadas a operações de crédito, IOF e outros encargos que, somados, tornam o custo efetivo bem maior do que a taxa de juros “anunciada”.cpnv.ufms.br+1
Como descobrir quanto você está pagando hoje
Depois de entender onde as tarifas aparecem, o próximo passo é fazer um diagnóstico da sua realidade. Para isso, siga um passo a passo simples:
- Acesse o extrato detalhado de tarifas
No internet banking ou no app, costuma existir um extrato específico só de tarifas. Nele, é possível enxergar, mês a mês, quanto foi pago em cestas, transferências, saques adicionais e outros serviços. - Some o gasto dos últimos 12 meses
Em vez de olhar apenas o valor de um mês, considere o período completo do último ano. Assim, você enxerga o impacto real dessas cobranças no seu orçamento anual. - Compare seu pacote com os serviços essenciais gratuitos
Utilize a lista de serviços essenciais divulgada pelo Banco Central para avaliar se você está pagando por algo que poderia ser gratuito dentro de certo limite.Banco Central do Brasil+1 - Use comparadores de tarifas
Além disso, vale consultar sistemas como o STAR, da Febraban, que reúnem e comparam as tabelas de tarifas de diversos bancos.FEBRABAN+1 Isso ajuda a identificar alternativas mais baratas para o seu perfil de uso. - Liste quais serviços você realmente usa
A partir disso, cruze o que o pacote oferece com o que você de fato utiliza. Muitas vezes, um cliente que usa só Pix, poucos saques e cartão de crédito básico não precisa de cestas caras.
Três estratégias práticas para reduzir ou zerar tarifas bancárias
1. Migrar para o pacote de serviços essenciais
Quem usa poucos serviços tradicionais pode se beneficiar muito do pacote de serviços essenciais, que é gratuito por determinação do Banco Central, dentro dos limites definidos por tipo de conta.Banco Central do Brasil+1
Dessa forma, você continua tendo acesso à conta, cartão de débito e alguns saques e extratos por mês, sem pagar mensalidade. Se ultrapassar o limite, paga apenas pelos serviços excedentes.
2. Negociar ou trocar o pacote de serviços
Caso ainda precise de mais saques, TEDs ou outros serviços, negociar com o gerente pode gerar boa economia. Em muitos bancos, existem pacotes padronizados mais baratos, além de cestas promocionais que só aparecem quando o cliente questiona os valores.Banco do Nordeste+1
Se a negociação não avançar, outra alternativa é comparar com bancos concorrentes e, se fizer sentido, transferir a conta principal para uma instituição com melhor relação custo-benefício.
3. Usar conta digital e Pix como base do dia a dia
Hoje, várias contas digitais oferecem saques limitados, transferências e Pix gratuitos, especialmente para pessoa física.Cora+1
Logo, combinar uma conta tradicional (com pacote bem enxuto) com uma conta digital sem tarifas pode reduzir drasticamente os custos, mantendo acesso a todos os serviços necessários.
Quando ainda faz sentido pagar alguma tarifa
Apesar de parecer que toda tarifa é “ruim”, existem situações em que faz sentido pagar por determinados serviços. Por exemplo:
- Empresas ou profissionais que usam recursos específicos de cobrança bancária.
- Clientes que precisam de atendimentos mais complexos, como operações estruturadas, câmbio específico ou consultoria dedicada.
- Pessoas que utilizam intensamente serviços não cobertos pelo pacote essencial e obtêm benefício claro com um pacote mais robusto.
Além disso, algumas operações financeiras ainda usam TED em vez de Pix, dependendo de exigências formais do pagador ou recebedor.Serasa Experian+1 Nesses casos, a tarifa pode ser vista como custo operacional, desde que esteja sob controle.
O ponto central não é nunca pagar, mas saber exatamente por que está pagando e qual benefício concreto está recebendo em troca.
Conclusão: monitore, questione e negocie
Em resumo, as taxas bancárias que você paga e nem percebe são resultado de três fatores principais: falta de atenção ao extrato, pacotes mal ajustados ao seu perfil e pouco uso das alternativas gratuitas disponíveis no sistema financeiro.
Assim, ao monitorar mensalmente o extrato de tarifas, comparar pacotes entre bancos e usar de forma inteligente o Pix e as contas digitais, você transforma um gasto invisível em economia recorrente.
Por fim, vale lembrar: banco é fornecedor de serviço, não entidade intocável. Questionar cobranças, pedir revisão de pacote e, se necessário, trocar de instituição faz parte de uma boa educação financeira.


